Música eletrônica no volume máximo. Bebida... E drogas à vontade.
Muitos jovens tentam aumentar os efeitos da maconha, da cocaína e do ecstasy andando em brinquedos radicais.
Ficam de cabeça pra baixo. Rodam sem parar - a toda velocidade.
Esses brinquedos são uma novidade nas festas de música eletrônica, as chamadas raves. Essa mistura de rave com parque de diversões começa a se espalhar pelo Brasil e a fazer vítimas.
Sábado, 30 de outubro.
Oito mil pessoas lotam o recinto de exposições, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Os ingressos custam entre R$ 40 e R$ 120.
O mais caro dá direito a cerveja e vodka à vontade. Os brinquedos fazem parte do pacote. Na entrada, a maioria das pessoas não é revistada.
Dentro da festa, flagramos o uso de drogas. Uma moça fuma maconha, no meio da multidão. Esta outra também. Ela ainda oferece para o colega ao lado.
Para escapar dos seguranças, muitos jovens usam drogas dentro dos banheiros.
Os frequentadores têm um vocabulário próprio. Bala significa ecstasy. Doce é LSD.
Em tom de brincadeira, uma jovem assume ter usado as duas drogas na mesma noite.
Mas o que acontece com esses jovens que, depois de muita bebida e drogas, ainda entram nestes brinquedos radicais - instalados especialmente para festa?
Esse é um dos brinquedos mais radicais da festa. uma velocidade incrível e além disso, vai girando, girando.
Eles chegam a ficar a 20 metros de altura.
São cinco horas da manhã e a festa continua aqui. agora nós estamos na fila de um brinquedo que chama kamikaze.
Andando pela rave, encontramos o resultado de tantos excessos. Há várias brigas e muita gente no chão, passando mal.
Uma moça aparenta ter alucinações. O corpo treme e ela bebe muita água - um indício do consumo de ecstasy.
“Essas drogas elevam a temperatura corporal. é quase uma febre e a pessoa se desidrata e tem essa necessidade muito grande de ingerir água”, diz o delegado Fernando Augusto Nunes.
Na enfermaria, a movimentação é grande. Para os médicos de plantão, a jovem usou drogas, sim.
Veja o estado de um rapaz: ele tem delírios. Mostramos as imagens da rave para este cardiologista - com 27 anos de profissão.
Segundo ele, foi sorte não ter acontecido algo pior. O médico explica que um jovem em repouso tem de 60 a 80 batimentos cardíacos por minuto.
Em caso de embriaguez, os batimentos podem chegar a 120, dependendo da condição física.
Se houve consumo de drogas, o perigo aumenta muito: 180 por minuto. E olha o que acontece quando um jovem nesse estado anda num brinquedo radical: o coração continua em ritmo acelerado e ocorre uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea.
“Pode levar a uma arritmia, que é um batimento irregular do coração, levando até a morte”, conta o cardiologista Eduardo Sargi.
Segundo os organizadores, 150 seguranças circulam pela festa. Durante uma das confusões, uma bomba explode.
Jovens acusam os seguranças de brutalidade.
Um estudante diz ter sido agredido por quatro seguranças. O motivo - segundo ele - foi preconceito.
“Eu fui dar um abraço no meu companheiro que a gente já tem uma união há determinado tempo. no momento que a gente se abraçou, do nada surgiu uma pessoa, me puxou pelo colarinho da camiseta, gritando: solta, solta, cai fora, cai fora. Quanto mais a gente pedia uma explicação, mais a gente apanhava”, conta Bruno de Souza, de 18 anos.
A festa durou cerca de 12 horas. Os seguranças minimizam os problemas.
“Tranquilo aqui. Aqui foi a mesma coisa que trabalhar em festa de criança”, comenta um segurança.
Jovens vão embora dirigindo sem cinto de segurança e visivelmente alterados.
A festa tinha alvará de funcionamento, emitido por um juiz de São Jose do Rio Preto.
No documento, está escrito: menores de idade, com mais de 16 anos, só podem participar acompanhados dos responsáveis.
Mas, na propaganda, essa obrigação não é mencionada. Para o Ministério Público, uma falha grave.
“E uma forma de enganar aqueles interessados em comparecer pensando que está liberado. Festa rave, ela é especifica pra explorar o adolescente, seja no consumo de bebida alcoólica, seja no consumo de drogas”, conta o promotor de justiça, Claudio Santos de Moraes.
Este ano, antes de São José do Rio Preto, houve festas dos mesmos organizadores em Ribeirão Preto, na capital paulista, em Belo Horizonte e em Goiânia.
No evento da capital de Goiás, cento e trinta pessoas foram detidas por porte de drogas.
Em novembro do ano passado, teve rave em Franca, interior de São Paulo.
A polícia aprendeu maconha, cocaína, ecstasy e LSD com nove pessoas que iam pra essa rave.
“É impossível fazer um evento de qualquer natureza sem consumo de álcool ou drogas. No nosso evento, nós temos um entretenimento a mais que é o parque de diversões que é exatamente para o jovem usar cada vez menos a droga e a bebida”, diz o organizador do evento, Andre Melo.
O organizador diz que nunca foram registrados acidentes com os brinquedos nem morte nas festas realizadas pelo grupo.
Mas reconhece que é difícil controlar a entrada de menores.
“Na hora que a gente abre os portões, existe todo um tumulto. A gente olha o documento, a gente faz a revista mas é impossível impedir a entrada de todos os menores”, conta o organizador.
O organizador também falou sobre as denúncias de agressões.
“A nossa segurança só age dentro do evento quando existe ou é dado um motivo. quando acontece um tumulto, os jovens são retirados da festa”,diz ele.
Para o capitão da Polícia Militar, o mais importante em eventos assim é a prevenção.
Ele explica que os organizadores das raves podem pedir oficialmente ao comando da PM que ajude na segurança.
Mas a festa precisa estar com a documentação regularizada; ter UTI móvel e brigada de incêndio; e no local, não pode haver venda de bebida destilada, como vodka e uísque.
Obedecendo a essas exigências, a PM fornece o apoio, que custa pouco: R$ 15 por policial. O dinheiro vai para o cofre do estado.
Já um segurança particular ganha em média R$ 100.
“Nós sabemos de casos que muitos organizadores evitam ter a presença da polícia pra ter uma liberdade maior ate pra fazer coisas contrárias a lei”, diz o porta-voz da Policia Militar, Nelson Nobre.
Em abril de 2008, outro grupo de empresários organizou uma rave em Pirapora do Bom Jesus, na grande São Paulo.
Nessa festa, o estudante de direito Erick Esiquiel, de 20 anos, foi espancado e morto.
Segundo o pai de Erick, o filho nunca tinha ido a uma rave.
Exames revelaram que ele não estava bêbado nem tinha usado drogas.
A polícia aponta como principais suspeitos cinco seguranças da festa.
“Infelizmente não tem condições desse tipo de festa nossos filhos frequentarem”, diz Almir.
Existe um projeto de lei em discussão na Assembléia Legislativa de São Paulo que impõe regras rígidas para a realização das raves no estado. Uma das propostas é que a festa não passe de 10 horas de duração. Atualmente, tem rave até de 48 horas.
Os organizadores também seriam obrigados a respeitar a seguinte proporção: um segurança para cada 20 participantes da rave.
Se a lei estivesse valendo, a festa de Rio Preto - que contou com 150 seguranças - deveria ter 400, já que o publico chegou a 8 mil pessoas.
“Nós fomos em um evento que pregava a diversidade, pregava a diversão, a paz e a liberdade de expressão de todas as tribos que sejam. Nunca na vida que nós esperávamos passar por uma situação dessas”, conta Bruno de Almeida, de 18 anos.
Fonte: Fantástico
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